Contribuição do Ten. Mitchell
Paulo
de Tarso
O
Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais (A-11), que serviu em três marinhas de
guerra ao longo de cinquenta e seis anos e foi primeiro porta-aviões da Armada brasileira,
encontrou seu fim ao lado de tantos outros bravos guerreiros do mar: nas
impiedosas praias de Alang, na Índia, maior centro mundial de sucateamento de
navios.
No
Reino Unido: símbolo de liberdade
HMS Vengeance, futuro NAeL Minas Gerais, a serviço da Marinha
Britânica.
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O HMS Vengeance (R-71) foi construído entre 1942 e 1945, no Reino Unido, para ser usado contra os japoneses, no Pacífico mas não chegou a entrar em combate: estava em Sidney, na Austrália, quando veio a paz.
Primeiro
navio britânico a entrar em Hong Kong após o armistício, foi onde os japoneses
assinaram sua rendição e serviu de base aliada para a reconstrução da cidade.
Durante muitos meses, foi o símbolo mais concreto e visível que a guerra
finalmente terminara e que a vida, em breve, voltaria ao normal. Até hoje, o
Vengeance, o nosso Minas, é lembrado com carinho pela população de Hong Kong.
Na
Austrália: substituto temporário
HMAS Vengeance, a serviço da Austrália.
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Teve
curta carreira na Marinha Britânica. Em 1952, foi emprestado à Marinha
Australiana por quatro anos. Os australianos tinham comprado um porta-aviões
britânico cuja construção estava bastante atrasada: “vai usando esse aí
enquanto o seu não fica pronto”, disseram os ingleses.
Agora
com o novo prefixo HMAS (Her Majesty’s Australian Ship), o Vengeance de novo
quase entrou em combate, na Guerra da Coreia, chegou a ser preparado e tudo,
mas mandaram outro navio.
No
Brasil: orgulho da frota
Clássica, linda foto do NAeL Minas Gerais, capa da falecida Revista
Manchete.
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Devolvido
ao Reino Unido em uma época de vacas magras e cortes orçamentários, o Vengeance
foi descomissionado e acabou vendido ao Brasil por nove milhões de dólares. Era
uma época de euforia por aqui. Estávamos construindo uma nova capital e, agora,
comprávamos um porta-aviões, o primeiro de uma Marinha latino-americana. (Além
disso, JK tinha enfrentado forte oposição das forças armadas e o Minas era uma
excelente maneira de ganhá-las com mel, não com vinagre.)
Rebatizado
Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais (A-11), ele nos deu cinquenta anos
de serviços. Foi o capitânia (ou seja, o navio mais importante) da Armada
Brasileira. Entrávamos assim no seletíssimo grupo de países com porta-aviões,
grupo que hoje inclui somente nove membros.
A
diplomacia e o comércio internacional, sem forças armadas por trás, são somente
exercícios de retórica. O Brasil sempre soube que não podia ter forças armadas
capazes de encarar os Estados Unidos, mas que não podia se dar ao luxo de não
ter forças armadas capazes de projetar nosso poder em Angola ou na Argentina.
Na verdade, forças armadas são o único tipo de seguro que uma nação pode ter:
você gasta aquele dinheiro e torce pra não usar.
Uma
espada nunca desembainhada
Felizmente,
nunca precisamos usar o bravo Minas Gerais. O mais perto que chegamos disso foi
durante a Guerra da Lagosta, quando toda a Armada foi mobilizada para encarar
os franceses, mas o Minas, recém-chegado, ainda não estava em condições de se
locomover.
Cinquenta
e seis anos depois de construído, o Minas foi descomissionado em 2001. Era o último
dos porta-aviões ligeiros da Segunda Guerra Mundial ainda ativo e também o mais
antigo porta-aviões em operação. E, mesmo tendo passado por três marinhas em um
século convulsionado, na interessantíssima expressão inglesa, 'never fired a
shot in anger', ou seja, “nunca disparou irritado”, querendo dizer que jamais
participou de combates e todos os tiros que disparou foram em treinamentos ou
simulações.
Fevereiro de 2001, acontecimento raro: NAeL Minas Gerais (A-11) e Nae
São Paulo (A-12) navegam juntos
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Um novo capitânia que conduz mas não é conduzido
O
atual capitânia da Armada brasileira é o Navio-Aeródromo (Nae) São Paulo
(A-12), hoje o maior navio de guerra do hemisfério sul. Comprado em meio a
muita polêmica em 2000, o São Paulo foi, durante quarenta anos, o porta-aviões
Foch, da Marinha Francesa, onde participou de diversas ações de combate, no
Iêmen, Djibuti, Líbano, Líbia e Iuguslávia. Que tenha vida mais pacífica no
Brasil!
Como
um cão sacrificado
O Minas, já sem o número A-11 pintado no casco, saindo rebocado do Rio
de Janeiro em sua última viagem.
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Enquanto isso, ninguém quis o velho Minas, onde tantos homens suaram por tanto tempo. A associação de ex-tripulantes britânicos tentou comprá-lo, para que fosse um museu flutuante, mas não conseguiram levantar o dinheiro. (Essa página traça uma cronologia dos últimos meses do Minas e dos muitos esforços para salvá-lo.) Em julho de 2002, for vendido por cerca de dois milhões de dólares para um estaleiro chinês.
O Minas, em seus últimos momentos, encalhado na praia
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Como
um velho cachorro já sem controle sobre as próprias pernas, o Minas Gerais saiu
do Rio de Janeiro rebocado, abandonando assim a baía que foi sua casa por
quarenta anos, e foi em direção à eutanásia nas areias de Alang, na Índia.
Alang
é um dos lugares mais infernais e desagradáveis, distópicos e apocalípticos do
mundo. Quilômetros e quilômetros de praias repletas de destroços, diantes das
quais navios desenganados se amontoam, esperando sua vez diante da faca do
açougueiro. Então, encalham naquelas areias imundas e são prontamente
desmembrados por uma multidão de gente desesperada e desesperançada, sem
ferramentas e sem segurança, que se atiram sobre os navios como gafanhotos
desesperados.
E
esse foi o triste fim do nosso Minas.
Depois do repasto das hienas, sobra só o resto da carniça do que um
dia foi o NAeL Minas Gerais, capitânia da Esquadra Brasileira.
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Para saber mais
-
Belíssima e completíssima página do
NAeL Minas Gerais no site Navios de Guerra Brasileiros.
-
Matéria sobre o desmanche de navios em Alang, um dos lugares mais infernais da
terra.
- Tributo ao Minas no Poder Naval, melhor site brasileiro
sobre assuntos navais.
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"Sou
um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo..., mas posso fazer alguma
coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que
posso."
"NO MUNDO SEMPRE EXISTIRÃO PESSOAS QUE VÃO TE
AMAR PELO QUE VOCÊ É… E OUTRAS… QUE VÃO TE ODIAR PELO MESMO MOTIVO…
ACOSTUME-SE A ISSO… COM MUITA PAZ DE ESPÍRITO…"
"Guns don't kill people, people kill people"
2 comentários:
Meu amigo, muito obrigado pela publicacao dessa materia que me faz lembrar meu saudoso pai ja falecido que foi a PRIMEIRA tripulacao do NAEl Minas Gerais que infelizmente foi cortado e derretido.
Olá incansável, sei muito bem que você pode contribuir aqui com mais alguns detalhes sobre a primeira tripulação do Minas Gerais. Outra coisa seria algumas imagens sobre o mesmo, caso estejam aqui pela minha vizinhança e se estiver disponível eu mesmo vou buscar, escanear e devolver.
Grande abraço
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