terça-feira, 19 de abril de 2011

CASSINO DO GOMES - Herói de luta cubano vive como mendigo,

Colaboração do Granadeiro Pekowal.

Após lutar na invasão da Baía dos Porcos, em 1961, ex-tenente do Exército Revolucionário de 72 anos pede dinheiro em Havana e afirma que era melhor ter morrido em batalha: "Seria um mártir"

Em meio ao debate sobre reformas liderados pelo Partido Comunista, Cuba comemora 50 anos de sua maior conquista militar

Matéria de Ricardo Galhardo, enviado a Havana, Cuba | 17/04/2011 07:27


Hoje a única batalha à qual Carlos, 72 anos, se dedica é a de convencer os turistas que passeiam pelo bairro de Havana Velha a lhe pagarem uma bebida. “Meu dinheiro só dá para a comida e sempre tive um lema. Primeiro a comida, depois a bebida”, diz ele estendendo a mão com três níqueis de 10 centavos de CUC, a moeda dos cubanos.
Quem passa por ele não imagina que aquele velho com roupas esgarçadas, hálito de rum barato e aparência de mendigo é um dos heróis da maior conquista militar de Cuba, a batalha da Baía dos Porcos, que hoje completa 50 anos.
Visivelmente embriagado às 15 horas, quando foi localizado pela reportagem do iG, Carlos não conteve as lágrimas ao lembrar dos três dias de luta que resultaram na expulsão de um batalhão de 1.297 exilados cubanos treinados e armados pelo governo dos Estados Unidos com a missão de derrubar o governo revolucionário e matar Fidel Castro. “Lutávamos por amor a Cuba e à revolução. Naqueles dias não me preocupava em morrer em combate. Talvez tivesse sido melhor. Hoje seria um mártir em vez de mendigo”, disse Carlos.
No dia 17 de abril de 1961, quando começou a invasão, o então primeiro-tenente do Exército Revolucionário estava aquartelado em Havana quando soou o alarme, por volta das 3 horas. “Houve uma excitação muito grande. Não sabíamos o que estava acontecendo. Só tivemos clareza da situação quando já estávamos nos caminhões rumo à Baía dos Porcos”, recorda.
Depois disso ele ainda combateu em Angola e passou mais 10 anos nas Forças Armadas, até ser dispensado por invalidez devido a um acidente de carro. Hoje vive como aposentado e recebe um salário de US$ 15. Perguntado se participaria do desfile militar em comemoração aos 50 anos da batalha, Carlos disse que não. “A festa é para o governo, não é para as pessoas que arriscaram a vida”. E mudou de assunto.“No primeiro momento pensei: estamos mortos. Não temos a menor chance contra o exército mais bem armado do mundo. Então Fidel chegou à frente de batalha e sua presença nos deu confiança. No segundo dia, já sabíamos com certeza que ganharíamos a batalha.”
Foto: Ricardo Galhardo/iG

Carlos vive nas ruas de Havana, mas não contém as lágrimas ao lembrar da batalha que marcou a maior conquista militar da história de Cuba
>

Nenhum comentário: