Companhia de Polícia do Exército da 11ª Região Militar: vista aérea do primeiro quartel te Brasília |
VISTA AÉREA DO BPEB |
Fui transferido para a Companhia de Polícia do Exército da 11ª Região Militar no dia 27 de dezembro de 1960. O quartel era provisório, de madeira, localizado às margens do Lago Paranoá, entre o Brasília Palace Hotel e o Palácio da Alvorada. Foram tempos difíceis aqueles primeiros anos da Capital Federal. A votação da chamada Lei da Inelegibilidade dos Sargentos e a renúncia do presidente Jânio Quadros fizeram com que a tropa ficasse em rigorosa prontidão a maior parte do tempo.
Em setembro de 1961, a PE ocupou suas definitivas instalações no Setor Militar Urbano. Com poucos efetivos de oficiais e praças, a barra continuou pesadíssima, especialmente na debelação da Revolta dos Sargentos, a 12 de setembro de 1963, vindo os ânimos a se amenizarem depois da posse do presidente Castello Branco, coroando a Revolução de 31 de Março de 1964.
A 9 de abril de 1964, a Cia. Pol. Ex./11ª RM foi transformada no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília – BPEB, que dispunha de muitas vagas a serem preenchidas, o que não foi difícil, pois grande parte dos militares de outros Estados almejava servir nessa nova unidade, considerada de elite do Exército Brasileiro. Dentre os muitos recém-transferidos, foi com satisfação que vi, no Boletim Interno, o nome de um grande amigo, o 3º Sargento Dorgival Ribeiro Damasceno.
Para falar no Dorgival, tenho que remontar a meus bons tempos no 12º RI.
Quando ali cheguei, fui designado para a Companhia de Petrechos Pesados do Primeiro Batalhão – CPP - 1, onde o Dorgival já era praça antiga. Em nosso primeiro contato, descobrimos que éramos gêmeos: nascêramos ambos no dia 3 de julho de 1936. Se tínhamos o mesmo signo, forçosamente igual seria nosso temperamento. Como eu passara o ano de 1956 na vida civil, o Dorgival fora promovido a sargento antes de mim. Era mais antigo, tinha precedência. Trocado em miúdos, era meu superior.
Em 1958, eu – ainda – era bem magro. Para torrar minha paciência, o Dorgival logo me pôs o apelido de Sargento Minhoca. Não só devido à minha esbeltez. Dizia ele que, nos acampamentos, só os sargentos antigos tinham o direito de dormirem nas camas de campanha. Os sargentos recrutas, como era meu caso, dormiam no chão, igual às minhocas. Sempre que nos encontrávamos, no quartel ou na rua, me futucava com essa zombaria, que muito o divertia.
Certo dia, em visita ao Zoológico da Pampulha, deparei com um viveiro de jacarés, dos quais um, o jacaré de luneta, com suas costas retas como uma tábua, tórax e abdômen proeminentes, era a figura perfeita do Sargento Dorgival.
Chegando ao quartel, depois de ouvir pela enésima vez o apelido, comentei consigo, no meio de outros colegas, a semelhança que notara entre o bicho e ele, ouvindo, dos circunstantes, risos de aprovação. Imediatamente, chamei-o de Tio Jaca, no que fui imitado por todos. Foi a arma que eu e o resto da sargentada usamos, dali para frente, quando ele se metia a engraçado.
Com o tempo, ficamos amigos. No ano seguinte, o minhoca já era outro sargento novato. Como sempre gostei de estudar a Língua Portuguesa, era a mim que ele procurava para tirar suas dúvidas, preparando-se para fazer o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos – CAS.
Voltemos ao BPEB. Em nome da velha amizade, prometi a mim mesmo que jamais divulgaria sua alcunha, até porque, se o fizesse, estaria arriscando a ver turvada uma harmonia construída a muque. Cautela que se revelou inócua.
Certa manhã, um grupo de sargentos conversava animadamente, e eis que ele surgiu no pátio. Detalhe: eu me encontrava bem longe, trabalhando na Tesouraria. Ao vê-lo, o Sargento Bandeira, o Sonhador – hoje funcionário aposentado da Câmara dos Deputados –, gritou:
– Olhem lá, aquele sargento é um jacaré, sem tirar nem pôr!
As gargalhadas dos outros companheiros atestaram que acabava de chegar ao Planalto Central o simpático Tio Jaca!
O Retorno
Em outubro de 1997, mais de 30 anos após meu licenciamento do Exército, retornei a Três Corações, para a comemoração dos 40 anos da Turma ESA/1957. Compareceram 32 ex-alunos, um instrutor e um monitor, a maioria acompanhada de suas famílias. A Escola forneceu hospedagem a todos. Foram 3 dias de festividades, com apoteótico desfile junto à tropa.
A seguir, o quadro alusivo ao histórico reencontro.
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