quinta-feira, 25 de novembro de 2010

BGP NA HISTÓRIA – O Levante de Brasília pelo cel de Inf. Granadeiro Ary dos Santos 1.ª parte

Material retirado do Blog
Por Ary dos Santos
Cel. Inf da Reserva - Turma de 1958
Brasília, 04.Set.2007
(Reprodução autorizada, fonte citada)
Corria o ano de 1963. O quadro político-social brasileiro era mais do que indefinido - era extremamente confuso. Na área militar, a situação era intranqüila pelas ações e omissões de um Governo que pouco produzia e, quando falava, somente se externava por ideais e símbolos da esquerda que arrastavam muitos incautos com idéias falsas e, como sempre, com objetivos eleitoreiros.
Em Brasília – na época já capital de direito, mas ainda não integralmente de fato - era esse o clima por volta de agosto. A única Unidade do Exército aproximadamente completa na Capital era o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), herdeiro histórico do “Batalhão do Imperador” e que respondia pela segurança de todo o Distrito Federal - valendo-se, para o cumprimento dessa extensiva e intensiva tarefa, do sistema de dupla-incorporação e do esforço de seus quadros para atender a todas as imposições.
No quartel ao lado, onde se erguia o Batalhão de Polícia do Exército (BPE), agrupavam-se núcleos não só daquele futuro batalhão,  mas também de outras Unidades que iriam, com o tempo, enriquecer o efetivo militar do DF, e um grupamento de pára-quedistas deslocados para Brasília a título de reforçar a segurança.
Na segunda quinzena de agosto, seca no auge, os oficiais do BGP, além de suas tarefas normais, foram chamados a atuar como Comandantes de frações de valor variável, inclusive dirigindo viaturas, para responder pelo patrulhamento das cidades satélites, tendo em vista que a Polícia Militar fora afastada dessa atividade em face de graves problemas ocorridos em algumas situações de conflito. Toda essa etapa de agitações, conduzidas e/ou induzidas pelos líderes locais da esquerda, concluiu-se na noite de 03 de setembro, com uma concentração na Praça 21 de Abril, na Avenida W-3.
Como vários outros colegas, participara de todas essas atividades e preparava-me para alguns dias mais calmos quando, na madrugada de 04 de setembro, recebi um telefonema de São Paulo, avisando-me ser iminente a chegada do meu primogênito. Somente graças à boa-vontade de todos – pois na época não existiam cheques especiais, cartões e nem mais do que dois vôos diários para a capital paulista - consegui, via Rio, ver meu filho, por volta das 14 horas, já com 6 horas nesse mundo.
Terminados os dias de dispensa a que fazia jus pela legislação, retornei à Brasília, pela tarde de 11 de setembro, em um vôo que, mais compatível com meus proventos, fazia duas ou três escalas. Um incidente com o aparelho deixou-me em São Jose do Rio Preto, onde a muito custo, consegui concluir, via Goiânia, o vôo para o DF, aonde cheguei, já à noite.
Depois de um banho reconfortante e de algumas providências para o dia seguinte, preparava-me para dormir, por volta das 22:30 horas, quando batidas na porta do quarto trouxeram-me, abruptamente, de volta à realidade profissional. Era o Sgt. Borges, profissional exemplar e antigo, que estava na função de Adjunto do Oficial-de-dia, avisando que havia estourado uma sublevação de militares de outras Forças e talvez o nosso quartel fosse um alvo.
Aprontei-me de imediato enquanto formulava algumas hipóteses. O fato é que, pelo cansaço e pelo envolvimento e emoção inerentes ao nascimento de um filho, não me aprofundara no noticiário dos últimos dias e mal soubera da cassação do mandato, pelo Judiciário, de um Sargento eleito deputado federal. Veio-me à mente, em primeiro lugar, a segurança dos integrantes do batalhão, dos quais cerca de 1200 soldados “granadeiros”, que estavam, naquele horário, em merecido repouso, e também das instalações - naquela época, um quadrilátero totalmente permeável a uma ação dos sublevados e apenas com uma sentinela em cada um dos seus vértices.
Não havia tempo para consultar alguém e nem conhecia a extensão e a gravidade dos fatos - e só depois de algumas horas ficaria sabendo que apenas mais três oficiais estavam no Quartel, um deles o oficial-de-dia. Mas, éramos oficiais (e sargentos que foram se incorporando às atividades) e, como não há Exércitos distintos, assim agimos, como por certo agiriam, hoje, os oficiais e sargentos - respeitando os valores da disciplina, da hierarquia e, sobretudo, da lealdade, que têm sido cultuados como orientadores da ação permanente da Força.
Continua
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