Enquanto diversos oficiais e sargentos chegavam ao BGP, no quartel da PE, o seu Cmt e alguns oficiais resolveram, por desconhecerem a situação, entrar pelos fundos do quartel. Foram, então, presos pelos revoltosos e conduzidos à Base Aérea de Brasília, local controlado pelos revoltosos e cárcere dos oficiais. Dois tenentes da PE, entretanto, Haraldo de Oliveira (Turma de 1957) e Eduardo de Oliveira Fonseca (Turma de 1958), entraram normalmente no seu quartel e, horas mais tarde, conforme depoimento verbal feito a mim, organizaram um destacamento e se dirigiram para o DTUI (Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos) – equivalente a uma central telefônica do DF, situada na Asa Sul, quadras 400, até então em poder dos amotinados.
De fato, durante a noite e parte da madrugada, os quadros sublevados da Marinha e da Aeronáutica passaram a controlar não só esse órgão como também assumiram prédios militares na Esplanada dos Ministérios, além de se instalarem com farto armamento nos fundos dos já citados quartéis do Exercito. Os dois tenentes reassumiram o DTUI, de forma vigorosa e até um pouco fora dos padrões habituais, chegando a perseguir alguns militares amotinados que debandaram em correria pelas quadras. Em situações excepcionais, impõem-se iniciativa do Cmt e também medidas excepcionais.
Na área dos quartéis, lenta e seguramente, alargou-se o cerco defensivo das duas companhias em torno do BGP objetivando garantir a inviolabilidade do mesmo. O Cmt do BGP, Cel. Raymundo Netto Corrêa, deslocou-se para a esplanada, assumindo, no prédio do Ministério do Exército, o Comando da 11ª Região Militar, tendo em vista que o seu comandante – Gen. Fico – encontrava-se fora da guarnição. Com ele seguiu, entre outros, o Ten. André Leite Pereira Filho (Turma de 1959), com um efetivo de soldados granadeiros para reforçar a guarda daquele ministério. Quando esse pelotão preparava-se para formar o perímetro de segurança do Ministério, três ou quatro amotinados que controlavam o vizinho Ministério da Marinha investiram atirando contra o mesmo. Naturalmente, os soldados, em seu inesperado “batismo de fogo”, se protegeram, aguardando ordens, enquanto o Ten. André tomou a posição deitado e, depois de concluir a montagem da metralhadora Madsen que estava próxima, passou a atirar contra os atacantes. Com o passar dos segundos, refeitos da surpresa, os soldados da guarda e outros do reforço recém-chegado também reforçaram o fogo, obrigando os atacantes a refluírem para o seu prédio com algumas baixas.
O Sub-Cmt do BGP, Cel. Inf Antonio Barbosa de Paula Serra, assumiu o comando operacional do BGP e, já garantida a segurança física do aquartelamento, organizou a coluna motorizada constituída por caminhões militares e ônibus civis transportando o maior efetivo possível do BGP, tendo á frente, em posição para eventual tiro horizontal, os canhões da Bateria Independente de Artilharia, para a ação de limpeza final na Base Aérea e na Área Alfa (Marinha).
Continua
Um comentário:
Na época em que servia no BGP, Xerém às vezes precisava ficar de sentinela. Numa dessas vezes ele caiu no sono e ficou sentado com a cabeça pendendo e o queixo apoiado no peito. Quando de repente acordou, sem levantar a cabeça, abriu os olhos e viu os sapatos do sargento bem à sua frente. Para evitar uma bronca, querendo fazer a autoridade pensar que ele não estava dormindo, disse a única coisa que julgou possível livrá-lo da enrascada:
- Amém.
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