domingo, 28 de novembro de 2010

BGP NA HISTÓRIA – O Levante de Brasília pelo cel de Inf. Granadeiro Ary dos Santos 4.ª parte.

Quando iniciamos o deslocamento, cerca de 09:OO horas, no pátio do BPE, a tropa pára-quedista ali aquartelada fazia treinamentos para “controle de tumultos” (não havendo, entretanto seu emprego pratico nas ações). A tropa dirigiu-se, na direção Sul, pelo EPIA (Eixo Principal de Indústria e Abastecimento) - via que praticamente faz parte da ligação do Sul com o Norte e Nordeste do Brasil -, fixando seu Cmt, como primeiro objetivo, a liberação da Base Aérea. Para isso determinou-me que, com um pelotão, cumprisse uma proteção do flanco da tropa, na Rodovia 040/020, próximo ao cruzamento com a avenida que, dali, se destina à região do Aeroporto.
Estabeleci as medidas necessárias, face ao controle dos passageiros dos veículos, e a uma possível ação por parte dos revoltosos, vindos do sul, pela mesma rodovia. Foram tomadas todas as medidas para tal, embora o efetivo fosse um tanto reduzido e a missão envolvesse atividades de controle policial e, simultaneamente, atividades de combate, pois deveria ficar em condições de um embate com eventuais grupos de amotinados oriundos da área Alfa. Isso incluía, principalmente, o posicionamento das metralhadoras e a “amarração” (fixação dentro de certos limites) do seu tiro, evitando que um eventual tiro livre atingisse pessoas não envolvidas no conflito.
Na Base Aérea, foram libertados os oficiais presos, os quais, ainda conforme relatos verbais, “deveriam aderir ao movimento em 24 horas ou serem executados” - justiça almejada pelos líderes esquerdistas como padrão para o Pais o que, de certa maneira, se repete até os dias atuais. Durante essa fase, o Cel. Serra, reavaliando a minha missão inicial, e conhecedor de outros dados sobre o efetivo da Área Alfa (objetivo 2), houve por bem, enviar para meu auxílio, sucessivamente, os pelotões comandados pelos Ten. Fernando Cardoso (Turma de 1959) e Ten. Augusto César Monteiro Teixeira Coimbra (Turma de 1960). Com mais dois pelotões a meu comando pude, realmente, rearticular melhor o dispositivo, pois o eventual embate com tropas de amotinados vindas em sentido contrário seria uma hipótese bastante desconfortável para um pelotão apenas. A missão prosseguiu com os incidentes normais, como a detenção temporária de duas pessoas – um civil e um militar -, mas sem maiores problemas, durando três horas até o retorno do grupamento do Cel. Serra.
Reiniciado o deslocamento, atingimos a pista de acesso à Área Alfa (Marinha), onde, pela madrugada, um modesto estafeta motorizado de uma empresa fora metralhado pela guarda dos amotinados. O reconhecimento efetuado indicou que os integrantes daquela corporação estavam em forma, desarmados, comandados por um Sub-Oficial, aguardando a chegada do comboio para se renderem. Feito o contato, aproximadamente 200 amotinados, no decorrer do final da tarde, foram enviados presos para o Ministério do Exército onde permaneceram detidos para as conseqüentes averiguações legais.
Executamos o reconhecimento da área do aquartelamento, que deixou claro o saque efetivado contra um depósito de armamento, e a guarnecemos para o nosso pernoite. Finalmente, por volta das 20:30 horas, consumimos a primeira refeição daquele dia que fora memorável em todos os sentidos. Não deve ser esquecido que, nessa segunda parte do deslocamento, em clara demonstração de amor à sua Força, incorporaram-se ao nosso grupamento, em trajes civis, com suas armas pessoais e um carro particular, quatro oficiais daquela base da Marinha, em estreita e útil cooperação com o desenvolvimento do nosso trabalho.
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