terça-feira, 23 de novembro de 2010

BGP NA HISTÓRIA – Revolta dos sargentos por Pedro KOWALIAUSKAS. 2.º texto

Três meses incompletos da incorporação ao Batalhão da Guarda Presidencial. Seguia o mês de setembro do ano de mil novecentos e sessenta e três. Já era dia doze.
            No alojamento da Companhia de Petrechos Pesados o manto da noite agasalhava os soldados que, não estando em serviço, repousavam aguardando o toque de alvorada.
            De repente as luzes todas se acenderam. Era  por volta de três horas da madrugada. Nem notei que havia soado um alarme. Segundo comentários posteriores, haviam tentado invadir o Batalhão.
            O 1ºTen. Monteiro ordenava que a Companhia estivesse em forma, com uniforme de instrução, na pérgula. Não demorou muito e a ordem era cumprida.
            A Cia. em forma, o oficial foi escolhendo alguns soldados para saírem de forma. Eu fui um deles.
            Havia um silêncio sepulcral.
            O “choque” estava já postado ali perto. Eu imaginei que se tratava de um treinamento. Para nós que fomos escolhidos, foram distribuídos cinco cartuchos de munição para as armas que já estavam conosco.
            Pronta a ordem para embarcar, rumamos ao centro de Brasília. Desembarcamos no Ministério da Aeronáutica.
            Imaginei que fosse um treinamento em conjunto das forças armadas.
            Kortz e eu fomos escolhidos para posto defronte ao edifício do Ministério. O tenente veio e disse:
-Vocês têm cinco cartuchos de munição. Se no prédio ao lado (Ministério da Marinha) houver algum movimento suspeito não atirem primeiro, mas, quando vocês atirarem não errem. (palavras escritas de memória, podem não condizer “ipsis literis”)
            Ali ficamos por um espaço de aproximadamente uma hora para menos, quando fomos substituídos pelos sds. Silva e Vellenick, se bem me lembro.
            Foi nos dada autorização para irmos ao subsolo do edifício, onde ficava o refeitório. Ali nos serviram aveia, em nossa caneca de campanha.
            De volta, subindo as escadas, ouviam-se alguns estampidos. Kortz disse:
-É tiro!
            Eu achava que era o estalo das persianas, que havia por lá.
            Ao chegarmos ao salão de vidro que, dava para a rua, lá estavam, na metralhadora .30 o soldado atirador, veterano 1103 (não sei o nome), que disparava rajadas. E o ten. Monteiro disparava os fuzis  que eram substituídos em sua mão. Kortz gritou para eu dar meu fuzil ao tenente porque ele estava mandando. Logo após voltou a arma às minhas mãos, descarregada.
            Alguns instantes após, tentava o jovem oficial ligar para o Batalhão, mas não conseguia linha. Não sei de onde apareceu também um telefone de manivela (de campanha).
            Disparos ainda continuavam. Agora mais interruptos.
            Algum tempo passou.
            Chegaram os tanques e apontaram seus canhões para o edifício insurgente.
            Viam-se os braços erguidos dentro das gandolas cáqui dos fuzileiros navais saindo do prédio.

Havia sido abortada essa tentativa de fratricídio. Mas as inseminações continuaram pelos tempos vindouros.
            E clareava o dia.
            Novamente fomos reunidos, já com reforços, desta vez presente também o 3º sgt. Monteiro.
            A revista Manchete fazia documentação fotográfica do evento. Os soldados do BGP deitados no chão da esplanada formavam um mar  verde-oliva e os tanques de guerra pareciam tigres a mostrar suas garras.
            Agora eu já sabia que não era um treinamento.
            Outra vez o choque. E outra vez não sabíamos para onde estávamos indo.
            Paramos defronte à guarnição da Aeronáutica, até que veio a ordem para adentrarmos ao quartel.
            -Desembarcar!
            Agora era o sargento Monteiro no comando. Estabeleceu postos de guarda, iniciando-se o primeiro turno às nove da manhã, com período de uma hora. Fez a escala, que hoje ainda tenho em minhas mãos.
            O 10º BC de Goiânia veio suprir a guarda do BGP. Ficamos em torno de três dias na Aeronáutica.
            Saímos do quartel com cinco cartuchos de munição cada, mas voltamos com o cinturão de guarnição completamente cheio, tantas foram as balas encontradas escondidas dentre os arbustos, na Aeronáutica.
            Estes são os soldados que participaram do primeiro evento do dia 12 de setembro de 1963, a Revolta dos Sargentos:
            791-KORTZ
820-TÉRCIO
797-MÍLTON
793-ALONSO
816-GALHARDI
799-ODARA
775-JONAS
781-ALMEIDA
815-PRATES
812-ERTL
782-CREMONEZI
794-CARDOSO
813-KOWALIAUSKAS
823-WALTER
779-BORGES
746-ARNALDO
760-VELLENICK
786-SILVA
1103- soldado veterano (metralhador)
780-KNOLL



Pedro KOWALIAUSKAS CPP 63/64
>

2 comentários:

Pedro Kowaliauskas disse...

1103-RÚBIO, este era o nome do soldado que estava na metralhadora
ponto 30.

Anônimo disse...

SD 1103-RÚBIO - Este era o nome do soldado veterano.
PK