domingo, 13 de fevereiro de 2011

HISTÓRICA – PÉ PRETO, por Pedro Kowaliauskas.

Quando vos separais de vosso amigo, não vos aflijais.
Pois o que vós amais nele pode tornar-se mais claro na sua ausência,
como para o alpinista a montanha aparece mais clara, vista da planície.
(Gibran Khalil Gibran: O Profeta - tradução Mansour Challita,1972 Edições Hífen)


A farda verde oliva foi como uma segunda pele para quem a sentiu como parte integrante de si próprio. Éramos como uma "alma grupo" quando, em ordem unida, nossos passos em "ordinário" vibravam num mesmo ritmo e produziam um mesmo som que parecia acompanhar as batidas de um só coração. E isto, esta união, foi uma das grandes lições que sentimos a vida nos presentear. Nosso verde era como o tecido da bandeira nacional acariciada pelo vento, quando se movia, quer no quartel, quer na avenida ou nos palácios. 

                     Dando baixa do BGP, voltei ao meu recinto de trabalho, de onde havia me licenciado para cumprir o serviço militar. Ali nós tínhamos um amigo que servira na brigada de paraquedistas. Era o CELSO PQDT. E ele, como também já tivera uma segunda pele verde oliva, vez ou outra se dirigia a mim, em tom de brincadeira amigável me chamando de PÉ PRETO.

                        O paraquedista do exército brasileiro é um voluntário. Apresenta-se como candidato a servir e tem que passar por uma etapa de testes de aptidão física. Só então é incorporado e passa por um período de treinamento. Nessa fase, como recruta, ele usa o coturno preto como todo militar. Seus primeiros saltos são "de gancho". Depois de concluir todas as etapas ela passa a formar a tropa de elite e recebe sua boina bordô, seu brevê prateado e o coturno (chamado boot) marrom. Daí a honra infla-lhe o peito e já não é mais um "pé preto".  

                       Mais adiante, também como amigo de serviço, conheci o então sargento licenciado Wilson Carlos Albino. Era também da brigada pqdt. Ele estava licenciado do exército e aguardava a decisão de um processo na justiça militar. Alguns anos depois recebi uma ligação telefônica. Do outro lado da linha uma voz falou: -Aqui está falando o 1º Tenente Paraquedista ALBINO. Esta notícia me agradou. 

                     Quando estava eu incorporado, a brigada pqdt. estava representada em Brasília por um contingente de sua tropa que se alojava no quartel da PE. Nessa ocasião abriram-se as vagas para o Curso de Formação de Cabos do BGP. Um dos soldados paraquedistas candidatou-se e foi aprovado para a realização do curso, ficando então adido à CPP.  Era o LUIZ CARLOS DA SILVA, homônimo de nosso sargento Furriel. O sargento Silva o chamava de PQDT.

                O sd. Silva pqd. era um bom amigo. De raça negra, era forte, muito educado e prestativo. 

                No final do Curso de Cabos houve um treinamento de manobra para combate à guerrilha. Dez soldados foram escolhidos para representarem os guerrilheiros e divididos em duplas. Foram levados até o ponto de combate simulado, onde aguardariam os demais integrantes do curso, representando a força de repressão, que estava vindo caminhando pela mata.

                   Neste confronto simulado, um dos alunos do Curso de Cabos disparou seu fuzil (bala de festim), à queima roupa, às costas de outro aluno, perfurando a sua gandola, tendo este que ser socorrido à enfermaria. 

                      Eu era um dos guerrilheiros, sendo companheiro de dupla do sd. pqdt. SILVA. Espero que hoje ele seja um oficial da reserva. Ele me enviou uma carta após retornar ao Rio de Janeiro. Na ocasião ele residia em Acari. Nesta época o Estado do Rio havia mudado de nome para Estado da Guanabara, o que permaneceu até o ano de 1975.

                       O pqd. SILVA conquistou um Diploma de Cabo do BGP que foi integrar a BRIGADA. Então acho que posso dizer que o nosso batalhão também é parte integrante dos paraquedistas militares.

                        A todos estes homens do ar e, em especial, ao CELSO PQD, TENENTE PQDT ALBINO E CABO SILVA,  quero aqui expressar a saudação virtual deste 

                       PÉ PRETO.


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3 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, PEKOWAL,mate a cobra e mostre o pau (que rima podre!!!).Reviver tão linda e intensa lembrança, deve ser , ao mesmo tempo gratificante e chato,pois o tempo longe vai , pois exige grande concentração mental para lembrar e imaginar onde possam estar os personagens que tomam parte do "review" e retrospectiva.E aínda , apresenta os manuscritos de uma carta de um companheiro.Quem pode apresentar algo assim tão valioso?Imagino onde o PEKOWAL guarda estas preciosidades. Pois ele, ora apresenta fotos, ora escritos. Tá abusando, PEKOWAL, tá abusando. !Centenas de passos à minha dianteira. Mas não tenho inveja de vc, não,pois vez ou outra sou beneficiario quando resolver apresentar à comunidade seu farto e valioso material.Um cordial e begepeano abraço.XEREM- Domingo-13/Fevereiro/2011-23.58h.

Anônimo disse...

Xerem, se há algo de podre no reino da Dinamarca, isto não existe em suas palavras. E o elogio que você coloca é devido à bondade que mora em seu coração e não por algum outro fato. No entanto isto é como uma injeção de ânimo que você nos dá.

Aproveito e colo aqui um trecho que me faz lembrar os paraquedistas, ainda que relacionado a outro tema.

abraço. (pekowal)


No último discurso de Sócrates, tal como foi preservado no Fédon de Platão, o filósofo condenado à morte diz:
".....acima da Terra, existem seres vivendo em torno do ar, tal como nós vivemos em torno do mar, alguns em ilhas que o ar forma junto ao continente; e numa palavra, o ar é usado por eles tal como a água e o mar o são por nós, e o éter é para eles o que o ar é para nós. Mais ainda, o temperamento das suas estações é tal, que eles não tem doenças e vivem muito mais tempo do que nós, e têm visão e audição e todos os outros sentidos muito mais agudos que os nossos, no mesmo sentido que o ar é mais puro que a água e o éter do que o ar.
Eles também têm seus templos e lugares sagrados em que os deuses realmente vivem, e eles escutam suas vozes e recebem suas respostas;são conscientes da sua presença e mantêm conversação com eles, e vêem o Sol, a Lua e as estrelas tal como realmente são. E todas suas bem-aventuranças são desse gênero".
http://www.caminhosdeluz.org/A-123C.htm

Anônimo disse...

A maioria das pessoas costuma chamar o paraquedista de "PQD". E era assim que nossos amigos eram chamados. Mas há uma distinção das siglas.

PQD significa PARAQUEDAS e

Pqdt é o PARAQUEDISTA

(pekowal)